Por Paulo Hartung, presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá)

Estamos enfrentando uma das mais avassaladoras crises que já vivemos. A Covid-19 rapidamente se espalhou pelo mundo, chegou ao Brasil e está mexendo com a realidade de todo o País. O coronavírus passa da barreira da saúde e o seu enfrentamento tem grande impacto social e na economia e já está gerando instabilidade, como desemprego e diminuição de renda de famílias brasileiras.

O setor privado brasileiro precisou responder rapidamente às mudanças de comportamento exigidas para o combate à disseminação da doença, tanto nos cuidados com os seus funcionários, quanto nas novas demandas de mercado geradas com o distanciamento social e a quarentena. A indústria de árvores cultivadas foi ágil e organizada. Com forte atuação no mercado externo, as companhias tiveram a visão de prever a gravidade do coronavírus e tomaram decisões necessárias.

Antes que o surto chegasse até suas operações no Brasil, as empresas, sabiamente, deram o primeiro passo na prevenção e orientação, afastando pessoas que integram grupo de risco, trabalho remoto para funções compatíveis e investimento em comunicação com seus colaboradores e comunidades. A manutenção de pessoas trabalhando presencialmente foi feita organizadamente, com medidas que seguem protocolos de organizações de saúde como: aferição de temperatura; escalonamento de turnos para evitar aglomerações; distanciamento mínimo nos refeitórios; diminuição no número de passageiros em ônibus; intensificação na higienização de veículos e maquinário; aumento de oferta de álcool em gel, entre uma série de outros cuidados.

Essas ações e planejamento com os colaboradores formaram a base sólida que o setor precisava para continuar operando e entregando aos brasileiros produtos essenciais. São exemplos as embalagens de papel que possibilitam que alimentos e medicamentos cheguem a todos os supermercados, farmácias e lares; papéis para fins sanitários, como papel toalha e papel higiênico; o papel utilizado em bulas de remédios, receituários e formulários essenciais em hospitais; a celulose solúvel que é matéria-prima para fabricação de matérias de proteção de profissionais da saúde; e o carvão vegetal, biorredutor para produzir aço, utilizado em instrumentos cirúrgicos.

Os desafios da gestão desse momento são constantes e crescentes e as decisões nas empresas seguem ocorrendo e sendo ajustadas diariamente para cada nova necessidade. E nesses momentos de decisão, o setor de árvores cultivadas foi além. Soube olhar para fora de seus portões e está investindo em ações que auxiliam toda a sociedade. Neste momento que exige união e solidariedade, vários exemplos surgiram de um setor que se enxerga como parte de um ecossistema, que preserva o meio ambiente, que absorve CO2 e que cuida da comunidade do entorno. Já são diversas doações de alimentos e produtos de higiene em todo o Brasil, principalmente em regiões afastada dos grandes centros, em comunidades onde as companhias atuam. A Eucatex está produzindo álcool em gel para que seus colaboradores possam utilizar em serviço e levarem para suas casas. A CMPC aderiu a uma aliança colaborativa com outras empresas gaúchas e o Instituto Cultural Florestal (ICF), para adquirir equipamentos para o enfrentamento da situação, como máscaras, respiradores e Equipamentos e Proteção Individual (EPIs), além de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade. A Suzano distribuiu papéis sanitários e álcool em gel aos hospitais das regiões onde atua e encomendou da China respiradores pulmonares que devem chegar nos próximos dias e serão doados localmente também. Há uma série de iniciativas. Bracell, Duratex, Ibema, International Paper, Eldorado, entre outras, estão com campanhas de engajamento interno e solidariedade com comunidades.

A Veracel começou um processo de diálogo ativo com parceiros, governos e comunidades para a cocriação de ações colaborativas e humanitárias. Entre as iniciativas, estão ações com foco na segurança alimentar das comunidades mais vulneráveis, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, e da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e Consultoria Etno, que atende as comunidades tradicionais, dentre elas, 33 Aldeias Indígenas.

A Softys está investindo R$ 5 milhões para produzir 3 milhões de máscaras por mês e distribuir em hospitais públicos no Brasil e no Chile. Gerdau está doando aço para levantar hospitais de campanha.

Klabin e Suzano decidiram se juntar com uma série de grandes empresas e com o Ministério da Saúde para em conjunto mudar o paradigma brasileiro de produção de respiradores pulmonares. A empresa fabricante parceira é a Magnamed. Com essa aliança para viabilizar o aumento de produção, o Ministério da Saúde assinou um contrato de compra de 6,5 mil respiradores mecânicos, no valor de R$ 322,5 milhões, para uso no tratamento de pacientes infectados pelo coronavírus. A entrega de todos os equipamentos deve ocorrer em até 90 dias, sendo quase 2 mil ainda em abril. Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foram 45 dias de negociação para conseguir chegar nesse acordo que pode salvar vidas e mostra a capacidade de união do brasileiro.

Acompanhamos grandes ações institucionais, projetos em parcerias e também o incentivo para que as áreas e os colaboradores desenvolvam também os seus projetos sociais e tenham um papel importante na comunidade e neste momento de tensão, sempre com muito cuidado e consciência de evitar a disseminação da doença. O setor tem agido intensamente e aprendido junto a cada passo dado. Estamos trabalhando para aproveitar a chance de demonstrar que os produtos, o setor, nossa força de trabalho e nossas florestas cultivadas, mais do que nunca, são essenciais na vida dos brasileiros. Essas atitudes mostram que indústria de base florestal sairá mais forte, tendo dado a mão para colaboradores e comunidades neste momento.

Esse breve relato de algumas das muitas ações praticadas pelas empresas de base florestal demonstra a força deste setor e capacidade de rápida mobilização. Existe uma visão setorial de responsabilidade socioambiental e isso será muito oportuno para todos os desafios que ainda estão por vir. Sabemos que uma crise, além de sofrimento, ensina, abre oportunidades e sempre é finita. O setor produtivo está dando sua contribuição para que o País faça essa travessia organizada e saia da crise em condições de voltar a caminhar e a prover oportunidades para a população, seus filhos e filhas.

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